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Kapuscinski, a voz do “terceiro mundo”

“Quando os filhos dos nossos filhos quiserem informar-se sobre as crueldades da segunda metade do século XX, eles terão de ler Ryszard Kapuscinski.” Wall Street Journal

Ryszard Kapuscinski nasceu em 1932 na cidade polaca de Pinsk, hoje situada na Bielorrússia e era licenciado em História. Iniciou a sua actividade de jornalista em 1955, escrevendo reportagens sobre a reconstrução da Polónia. Ainda nos anos 50, foi pela primeira vez enviado como correspondente para a Ásia (Índia, Paquistão, Afeganistão) e para o Médio Oriente. Mais tarde foi correspondente em África e na América Latina, estando presente em países como Etiópia, Gana, Ruanda e Uganda, cujos movimentos nacionalistas foram retratados através da sua visão crítica e simultaneamente imparcial. Durante a sua carreira presenciou 27 revoluções, viveu 12 frentes de guerra e foi 4 vezes condenado a ser fuzilado.

Viajante, conhecedor do mundo e conhecedor do Homem, Kapuscinski é um exemplo de total entrega às causas do mundo. No seu trabalho, o lado humano e o lado profissional fundem-se de forma harmoniosa, culminando num jornalismo interveniente, no qual existe uma relação de empatia entre o repórter e o reportado. A empatia é uma habilidade de intuir como os outros se sentem e como vivem, por isso, para Kapuscinski, a empatia é uma capacidade fundamental para um jornalista “Creio que para fazer bom jornalismo devemos ser, antes de mais, homens bons ou mulheres boas: seres humanos bons (…) através da partilha podemos compreender o carácter do próprio interlocutor e partilhar, de forma natural e sincera, o destino e os problemas dos outros”.

A obra de Kapuscinski é um combate pela dignidade humana e contra a indiferença. Em 1999 foi considerado o melhor jornalista polaco do século XX e em 2003 foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades.

Livros (todos eles disponíveis imediatamente ou por encomenda na livraria Flâneur):

Andanças com Heródoto:

Em “Andanças com Heródoto”, Kapuscinski relembra alguns acontecimentos políticos e históricos que testemunhou, aproximando-os dos acontecimentos que Heródoto descreve. Embora possa parecer que o nosso mundo em quase tudo se distanciou do mundo de Heródoto, continua a ser verdade que compreender e aceitar o curso da história dos povos continua a ser tão difícil hoje como no tempo do autor grego. Para aqueles que, ainda assim, desejam tentar, este último livro de Kapuscinski é um magnífico guia, tanto mais que, ao invés de dar respostas, o seu autor prefere fazer perguntas.

 

Mais Um Dia de Vida:

Mais Um Dia de Vida – Angola 1975 é o extraordinário relato da descolonização angolana. Depois de 400 anos de domínio colonial, assiste-se ao violento surgimento de um país novo, imerso numa sangrenta guerra de guerrilha que visa decidir quem governará a nação libertada.

 

O Outro:

Neste livro reúnem-se seis pequenas conferências sobre o Outro, onde Kapuscinski procura compreender o que é ser europeu ou não-europeu, colono ou colonizado, branco ou negro. Numa viagem pela filosofia, pela história e pela antropologia, o autor evidencia uma visão do mundo idealista e pragmática, defendendo que numa época em que a humanidade se transforma rapidamente numa sociedade global, não é mais possível ignorar que, para o Outro, nós também somos Outros.

 

Ébano:

“Vivi alguns anos em África. A primeira vez que lá fui foi em 1957. Nos quarenta anos seguintes aproveitei todas as oportunidades para lá voltar. Viajei muito. Evitei rotas oficiais, palácios, personalidades ilustres e a grande política. Preferi viajar em camiões que encontrei por acaso, acompanhar nómadas pelo deserto, ou ser hóspede de uma família de agricultores da savana tropical. A sua vida é um trabalho árduo, uma luta constante, que eles aceitam com uma resignação e um ânimo extraordinários.
Este não é assim um livro sobre a África, mas sim sobre algumas pessoas de lá, sobre os encontros que tive com elas, o tempo que passámos juntos. É um continente demasiado grande para poder ser descrito. É um verdadeiro oceano, um planeta independente, um cosmos variado e rico. É apenas por uma questão de simplicidade e de comodidade que falamos de África. De facto, essa África não existe sequer, a não ser como conceito geográfico.”

 

O Imperador:

Haile Selassie, Rei dos Reis, Eleito de Deus, Soberano Todo-Poderoso, Imperador da Etiópia, reinou de 1930 a 1974, quando foi deposto pelo exército. Enquanto o combate ainda se travava, Ryszard Kapuscinski viajou para a Etiópia para entrevistar aqueles que mais de perto serviram o Imperador e saber como governava Selassie e como desabou o seu poder. Esta “história sensível e pujante” como a definiu The New York Review of Books, é a interpretação de Kapuscinski destes depoimentos – humorísticos, medonhos, tristes, grotescos – sobre um homem que viveu numa opulência quase inimaginável enquanto o seu povo vacilava entre a fome e a inanição.

 

O Xá dos Xás:

Nos anos 1950, com o repentino aumento do preço do petróleo, o Irão embarcou em um extraordinário processo de modernização. Foram importados armamentos, carros, aviões, tudo o que para o xá era sinónimo de desenvolvimento. Em 1979, no entanto, o seu projecto de “Grande Civilização” ruiu: sob o impacto de manifestações populares e a pressão dos religiosos xiitas, o reinado despótico de Mohammed Reza Pahlevi chegou ao fim.
Para narrar o processo de ascensão e queda do último xá do Irão, Kapuscinski lança mão de uma técnica mista, em que entram narrativa histórica, crónica jornalística e escrita de ficção. O autor busca no homem comum o significado profundo da cultura, da religiosidade e da revolução iraniana.
Nesta brilhante cobertura, o jornalista-escritor põe em prática a sua convicção de que “todos os livros sobre as revoluções […] deveriam começar com um capítulo com tons psicológicos, em que se descrevesse o momento em que um homem sofrido e apavorado repentinamente derrota o terror; o instante em que ele deixa de sentir medo”.

 

A Guerra do Futebol:

Neste livro Kapuscinski narra as suas aventuras por África, pelo Médio Oriente e pela América Latina entre 1958 e 1980, onde presenciou crises políticas, guerras, revoluções. Ao mesmo tempo narra também as vidas de pessoas comuns que conheceu em todos os países pelos quais passou.