Publicado em

Aforismos, Karl Kraus

“Temos de escrever sempre de tal forma, como se fosse a primeira e a última vez. Dizer tanto como se fosse uma despedida e tão bem como se fosse uma estreia.

Eu não domino a língua, mas a língua domina-me perfeitamente. Ela não é servidora dos meus pensamentos. Vivo numa simbiose com ela de onde recebo pensamentos, e ela pode fazer de mim o que quiser. Eu obedeço-lhe incondicionalmente. É a partir da palavra que o jovem pensamento salta ao meu encontro, formando posteriormente a língua que o criou. Tal graça de prolificidade em matéria de pensamentos faz uma pessoa cair de joelhos e transforma todo o dispêndio de um cuidado inquieto em obrigação. A língua é rainha e senhora dos pensamentos, e a quem inverter tal relação, ela far-se-á útil em casa, mas sem lhe franquear o seu seio.

A palavra mais antiga deve ser estranha quando vista de perto, recém-nascida, e deve levantar dúvidas quanto à sua condição de viva. Nesse caso, vive. Ouvimos o bater do coração da língua.”

“Arranho frequentemente a mão com a pena, e só aí fico com a certeza de que vivi o que está escrito.”

Karl Kraus, in Aforismos – http://www.flaneur.pt/produto/aforismos/