A Última Bobina / Eu não / Cadeira de Embalar

12.00 

de Samuel Beckett,

ISBN: 978-989-8828-83-5
Colecção: azulcobalto | teatro #023 | série mundo #002
Dimensões: 14×22
Nº páginas: 56
Ano: 2019 | Janeiro

REF: 9789898828835 Categoria: Etiquetas: ,

Descrição

Beckett (1906-1989) é incontornável, como Brecht. Nas peças aqui editadas pode ler-se como se filia num tipo de absurdo mais realista que outros realismos. Influenciado por James Joyce, de quem foi secretário, viveu a maior parte da sua vida em Paris. Em Dublin estudou no Trinity College. De formação protestante e conhecedor de latim, torna-se bilingue, escrevendo em francês e inglês, traduzindo as suas peças numa e noutra língua, recriando-as. Membro da Resistência, o seu teatro inventa, no palco convencional, uma cena que testemunha a vida a partir do seu fim. O seu teatro, testamentário, imobiliza as suas figuras num dispositivo que armadilha o jogo do actor, é de uma imobilidade activa. Dele disse Pinter em 54 : “Ele é o escritor mais corajoso e implacável que aí anda e quanto mais me esfrega o nariz na merda mais reconhecido lhe fico.” Foi prémio Nobel, em 1969.

Estas peças foram encenadas pelo Teatro da Rainha: A última bobina, em 2002, no sótão do Museu da Ciência e da Técnica em Coimbra; Eu não e Cadeira de embalar, como parte do espectáculo Dramatículos 2, em finais de 2015.

Traduções de Isabel Lopes a partir das versões francesas do autor.

Excerto

Krapp (com vivacidade) — Ah! (Inclina-se para o livro de registo, vira as páginas, encontra a inscrição que procura, lê.) Caixa… trrês… bobina… ccinco. (Levanta a cabeça e olha fixamente para a frente. Com deleite.) Bobina! (Pausa.) Bobiiina! (Sorriso feliz. Inclina-se sobre a mesa e começa a remexer nas caixas examinando-as de muito perto.) Caixa… três… trrês… quatro… dois… (com surpresa.)… nove! Santo Deus!… sete … Ah! Velhaca! (Pega numa caixa, examina-a de muito perto.) Caixa trêes. (Pousa-a em cima da mesa, abre-a e inclina-se sobre as bobinas que ela contém.) Bobina…(Inclina-se sobre o registo.) … ccinco… ciinco… ah! Sua vadia! (Tira uma bobina, examina-a de muito perto.) Bobina ccinco. (Pousa-a em cima da mesa, fecha a caixa três, volta a pô-la junto das outras, pega na Bobina) Caixa trrês, bobina ccinco. (Inclina-se sobre o aparelho, levanta a cabeça. Com deleite.) Bobiiina! (Sorriso feliz. Inclina-se sobre o aparelho, esfrega as mãos.) Ah! (Inclina-se sobre o livro de registo, lê a inscrição no fundo da página.) A Mamã finalmente em paz… Hum… A bola negra… (Levanta a cabeça, olha o vazio à sua frente. Intrigado.) Bola negra?… (Inclina-se de novo sobre o livro de registo, lê.) A criadita morena… (levanta a cabeça, devaneia, volta a inclinar-se sobre o livro de registo, lê.) Ligeiras melhoras do estado intestinal… Hum… Memorável… quê? (Olha mais de perto, lê.) Equinócio, memorável equinócio. (Levanta a cabeça, olha o vazio à sua frente. Intrigado.) Memorável equinócio?… (Pausa. Encolhe os ombros, inclina-se outra vez sobre o livro de registos, lê.) Adeus ao a… (vira a página.)… mor.